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segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Devoradoras de homem - XICO SÁ

O homem é a nova mulher. Poderia ser apenas um chiste do jornalista Alcino Leite Neto, mas a frase, escrita pelo sábio colega de profissão, diz muito mais sobre a nova postura feminina do que todas as nossas especulações psicanalíticas de botequim.

Pelo menos no discurso amoroso, não há dúvida, a fêmea se apropriou de vez da lengalenga dos marmanjos. É, amigo Lacan, aquela velha história de que a mulher não existe, tua tirada mais famosa, está ficando démodé. A fala feminina, apesar dos pesares e do miserável trocadilho, é o falo que faltava para a existência plena das moças.
Elas estão podendo. Elas nos devoram, taradas e indiscretas índias tupinambás, as famosas antropófagas. Nos traçam e espalham em todas as rodas sociais. O poder da fala e do gozo com a narração das aventuras.
A nós, homens, só resta uma constatação tipicamente feminina de invernos de outrora:”Você só quer me comer!” A fala é o novíssimo falo do mulherio. A libido pode até ser comum de dois, mas ela é sobretudo feminina.
A fêmea goza, principalmente da nossa cara de machos perdidos na selva mais indômita.
No ataque e na defesa, o discurso amoroso da mulher mimetiza a nossa linguagem mais arcaica. Sabe aquele manjadíssimo truque do “estou confuso etc”, tão em voga como mal da boca masculina? Agora é arte da mulherada.
Sim, a enganação-mor, o clássico dos clássicos da nossa principal mentira, agora é falado em outra língua. “Estou confuso, não é culpa sua, você é ótima, mas acho que não vou lhe fazer bem nesse momento, bla-bla-bla-bla”. Era o que dizíamos para nos safar de alguns encurralamentos, para cair fora, para amaciar o adeus.
Já ouviram esse trágico fragmento, não é? Para completar a fraude sentimental, vinha sempre algo nesse tom, repare se não estou certo: “Você merece algo melhor!!!” O copyright tem a marca da nossa testosterona das antigas, mas agora quem canta a mesma bola são as formosas damas.
Mais do que o próprio novo comportamento e o avanço da mulher em todos os ramos, a fala é que nos incomoda e perturba o cocoruto. A conquista de uma narração desavergonhada, o sequestro dos nossos dizeres mais “podres” e imorais.
E já reparou, amigo, como elas contam suas jornadas sexuais? Parecem até que possuem pênis mesmo. Dão com a língua nos dentes. Melhor, batem o pau na mesa, para usar uma das nossas expressões de baixaria prediletas.

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